Perda florestal avança muito além dos limites de plantação na América do Sul e África

De Rachael Petersen, Liz Goldman, Mikaela Weisse e Dmitry Aksenov
Quais florestas do mundo são naturais e quais foram plantadas pelos humanos?

Esta parece ser uma pergunta simples, mas os pesquisadores tem tido dificuldades de respondê-la por anos. Os satélites não conseguem distinguir facilmente entre florestas primárias e secundárias que ocorrem naturalmente e florestas plantadas que são criadas e gerenciadas pelas pessoas para suprimento de madeira, borracha e outras mercadorias. Poucos países fornecem mapas precisos de locais de plantação. Mas estamos chegando mais perto. Pesquisadores do Global Forest Watch e do parceiro Transparent World recentemente mapearam três plantações em sete nações com florestas densas e descobriram que na maioria dos países, mais de 90% da perda de cobertura florestal ocorre nas florestas naturais. Este é um problema, visto que as florestas naturais, especialmente aquelas nos trópicos, proporcionam benefícios climáticos, da água e de biodiversidade muito maiores que as florestas plantadas.

Mapeamos um total de 45,8 milhões de hectares de plantações de árvores, uma área maior que a Califórnia, no Brasil, Camboja, Colômbia, Indonésia, Libéria, Malásia e Peru. Através da sobreposição de conjuntos de dados da mudança florestal global sobre esses mapas, podemos, pela primeira vez, avaliar a dinâmica de mudança das plantações de árvores, identificar onde a perda florestal está ocorrendo nos ecossistemas naturais e localizar a conversão de florestas naturais para plantações. Aqui estão quatro destaques de nossa pesquisa:
1) Perda mais recente ocorrida nas florestas naturais.
No Brasil, Colômbia, Libéria e Peru, descobrimos que mais de 90% da perda de cobertura florestal em 2013 e 2014 ocorreu fora das plantações, nas florestas naturais. Esta perda é muito mais devastadora que a perda nas plantações, visto que florestas naturais apoiam ecossistemas e biodiversidade mais ricos.

2) Plantações estão substituindo florestas naturais.
Nossos mapas contam uma história muito diferente na Indonésia e Malásia, que juntas são responsáveis por aproximadamente 75% das áreas de plantação mapeadas nos sete países. As plantações cobrem quase um terço (30,2 por cento) de todo território na Malásia e 12,9 por cento de todo território na Indonésia. A maioria é de plantações de palma oleaginosa, seguidas pelas plantações de borracha.
Não surpreende que estes dois principais exportadores de óleo de palma passaram pela maior porcentagem da perda de cobertura florestal total nos limites da plantação: 65% e 44% na Malásia e na Indonésia, respectivamente. Isto não significa que as florestas ricas em carbono dos países não estão ameaçadas. A presença de duas décadas das plantações de escala industrial afetou as paisagens florestais intactas das nações, o tipo de floresta natural mais rico biologicamente. Na Malásia, mais de 24.000 hectares de plantações estão localizados em áreas que foram paisagens florestais intactas em 2000. Na Indonésia, tal área aumenta para mais de 66.000 hectares. Mesmo no Peru, onde madeira, palma oleaginosa e borracha cobrem somente 0,1% do território, as plantações estão cobrando seu preço. Ao longo dos últimos 15 anos, mais de 5.000 hectares de plantações foram estabelecidos em áreas mapeadas previamente como paisagens florestais intactas. Isto reforça preocupações de que novas plantações se ampliarão para dentro da área das florestas naturais da América do Sul e da África, como ocorreu na Indonésia.



3) As plantações são importantes, contanto que sejam controladas de forma apropriada.
À medida em que a população global e a demanda por mercadorias continua a crescer, as plantações desempenharão uma função crítica no cumprimento dessas necessidades. Mas para assegurar um futuro sustentável, os formuladores de políticas e outros interessados devem equilibrar tais desafios de desenvolvimento, com prioridades ambientais, incluindo a redução de emissões do desmatamento. Por exemplo, plantações futuras devem ser estabelecias em terreno já degradado e evitar florestas naturais de valor de conservação alto.
4) É importante continuar a distinguir entre florestas naturais e plantadas.
A manutenção deste conjunto de dados é especialmente importante para ajudar os formuladores de política a tomar as melhores decisões sobre o uso da terra e para compreender como as plantações de árvores aumentam e contraem-se em cada um destes países tropicais. Entretanto, devido à variedade de padrões de plantação e espécies de árvores em cada plantação, ainda é difícil distinguir entre os tipos de plantações, ou mesmo plantações de florestas naturais, usando até mesmo a tecnologia de sensoriamento remoto mais avançada. Por enquanto, confiamos na análise humana. Esperançosamente, a maior disponibilidade de imagens por satélite de alta resolução, diminuição dos custos de capacidade de processamento e o avanço dos métodos de análise, em conjunto com o aumento na transparência entre os governos e empresas devem diminuir o tempo e o dinheiro necessários para atualizar e dimensionar estes mapas no futuro. SAIBA MAIS: explore os dados em um mapa interativo ou leia a nota técnica.